sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Resenha – Crenças extraordinárias: uma abordagem histórica de um problema psicológico



            Escrito por Peter Lamont, ex-mágico profissional e professor de Psicologia da Universidade de Edimburgo, o livro Crenças Extraordinárias: uma abordagem histórica de um problema psicológico(UNESP, 447 pp, 2017) tem por objetivo discutir a validade das crenças [e da descrença] sobre os fenômenos ditos extraordinários. De acordo com Lamont, o propósito do livro

Não é tentar uma pesquisa histórica abrangente, mas, em vez disso, considerar certos elementos de continuidade e mudança no decorrer do tempo para que possamos compreender melhor as crenças sobre tais fenômenos. Esta é, antes de mais nada, uma investigação psicológica que busca usar evidência histórica com o intuito de levantar uma série de pontos a respeito de crenças acerca de fenômenos fora do comum e acerca da psicologia de tais crenças (LAMONT, 2017, p. 106).

            O livro foi pensado para seguir uma estrutura cronológica. O primeiro capítulo é reservado para introduzir o tema e abordar o papel da história da psicologia. Para Lamont, tendo em vista que o conhecimento psicológico “tem a capacidade de mudar a maneira como pensamos, sentimos e nos comportamos através da aplicação, disseminação e definição do que somos” (2017, p. 55). Ou seja, o conhecimento psicológico acaba por definir a nossa experiência ao lhe conferir significados específicos. Esses significados específicos também estarão relacionados com o que o contexto (época e lugar) considera normal, válido e útil. É aí onde a perspectiva histórica é necessária, pois nos permite compreender como esse conhecimento foi construído.
            O segundo capítulo aborda o que autor considera como a construção do extraordinário. Lamont não se concentra no aspecto metafísico das crenças, de sua realidade ou não, pois, em sua opinião, “manifestações crença do mundo real em relação a fenômenos extraordinários invariavelmente incluem formas de justificativa. Ao examinarmos a forma e a função do discurso, podemos ver diretamente como relatos de fenômenos fora do comum se tornaram convincentes” (2017, p. 96). Ou seja, seu objetivo é analisar como as pessoas justificam sua crença (ou descrença) no extraordinário. E para dar solidez às suas ideias, o autor recorre ao conceito de enquadramento para analisar os fenômenos extraordinários.

O enquadramento permite que a discussão seja  fundamentada no discurso, mais do que na cognição, e o primeiro, diferentemente da segunda, está diretamente acessível ao analista. Mudar o foco da cognição para o discurso já é uma área significativa da investigação psicológica (LAMONT, 2017, p. 93)

             De acordo com Lamont, o conceito de enquadramento (que ele retira da obra de Erving Goffman) é importante por possibilitar a organização e a definição da experiência, descrevendo-as como sérias ou não, por exemplo. Assim, ele "tem relevância muito clara em apresentações de ilusionismo e na fraude mediúnica, já que um truque de mágica pode facilmente ser estruturado como um genuíno evento mediúnico". 
     Os demais capítulos (que abordam, respectivamente, os fenômenos mesméricos, espiritualistas, psíquicos e paranormais) se propõem a analisar a maneira pela qual as pessoas manifestam e justificam as crenças acerca dos fenômenos extraordinários, utilizando a perspectiva histórica e o conceito de enquadramento. 
             Este é um livro muito interessante e que se propõe a contribuir para a histórica discussão sobre a possibilidade ou não dos fenômenos chamados de “extraordinários” serem possíveis, bem como qual a contribuição da psicologia nesta análise. 

   O livro pode ser adquirido no site da Editora UNESP (http://editoraunesp.com.br/catalogo/9788539306619,crencas-extraordinarias) ou nas livrarias.

Recife, 24 de outubro de 2017

Anderson Santiago

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