O livro escolhido para ser
resenhado desta vez é Complexo, Arquétipo e Símbolo na Psicologia de C. G. Jung
de Jolande Jacobi. Ela foi uma importante divulgadora da obra de Jung. De
origem judia, conhece Jung em 1928 e a partir de então dedicou-se a estudar
minuciosamente a teoria junguiana até culminar no doutorado em psicologia em
1938 (BAIR, 2006, p. 21).
Responsável
por uma das primeiras tentativas de sistematização da teoria junguiana (A
Psicologia de C. G. Jung: uma introdução às obras completas, publicada em 1940),
Jacobi recebeu o aval de Jung para as duas obras na forma de um prefácio. Para
este volume, Jung afirma esperar “que os esforços da autora, especialmente as
explicações teóricas da primeira parte, ilustradas com exemplos sobre o modo de
manifestação e a atividade do arquétipo, possam trazer alguma luz. Sou-lhe
grato por me aliviar do trabalho de sempre ter de indicar meus próprios livros
aos meus leitores” (p. 9).
O
livro é dividido em duas partes. Na primeira, Jacobi se dedica a sistematizar
as ideias em torno do que seja o Complexo, o Arquétipo e o Símbolo. De acordo
com Jacobi (2016, p. 42):
Quando o
complexo se “despe” de conteúdos da biografia pessoal do indivíduo que lhe
foram sobrepostos, o que ocorre, por exemplo, no curso de um trabalho
analítico, mediante conscientização deste material conflituoso reprimido, então
o verdadeiro núcleo do complexo, o “ponto nodal” advindo do inconsciente
coletivo e que estava envolto por esses conteúdos, é exposto.
Sobre
o arquétipo ela diz o seguinte (2016, p. 71):
Quanto
mais profunda é a camada no inconsciente da qual provém o arquétipo, mais
escasso será o seu desenho básico, porém mais oportunidades de desenvolvimento estarão
encerradas nele, maior será sua riqueza de significados.
Sobre
o símbolo, ela afirma que (2016, p. 117):
O
símbolo une os opostos e, com isso, os transcende, para, em seguida, novamente
deixar que eles se separem, de modo que nenhuma rigidez, nenhuma estagnação se
instale. Assim, ele mantém a vida psíquica em fluxo constante e a faz avançar
em direção de seu objetivo a que está destinada.
A
segunda parte deste livro é destinada a analisar os símbolos oníricos de uma
criança à luz das elaborações teóricas anteriores sobre complexo, arquétipo e
símbolo. O sonho analisado pertenceu a uma menina de 8 anos que viria a morrer
um ano depois, vítima de escarlatina. De acordo com Jacobi, a tentativa de
interpretação oferecida é um exemplo de como o método junguiano pode revelar o
sentido do sonho através do processo de amplificação, além de indicar como
lidar com material arquetípico.
Este
sonho é um belíssimo exemplo de sonho arquetípico e nos auxilia por demais a
visualizar como funciona o processo de amplificação na prática, não sendo,
contudo, possível de ser utilizada na prática psicoterapêutica pela evidente
complexidade, mas por não ser possível ao psicoterapeuta dispor, de improviso,
todas as amplificações necessárias numa sessão analítica.
Muitas
vezes, o sonho representa, por assim dizer, uma tentativa de comunicar à
psique, por meio da linguagem de imagens, um insight que lhe é necessário
justamente naquele momento e se destina à produção de um novo equilíbrio
(JACOBI, 2016, p. 149)
Este
é um livro essencial para a todos os que desejam aprofundar-se na teoria
junguiana, além de possuir um alto valor histórico por ter sido avalizado pelo
próprio Jung. O texto é agradável, o projeto gráfico muito bom e faz parte da
já excelente Coleção Reflexões Junguianas. Ele se encontra à disposição nas
principais livrarias, além de estar presente nas lojas da Livraria Vozes, física ou virtual (http://www.universovozes.com.br/2013).
Resenha elaborada por
Anderson Santiago
Referências:
1. BAIR, Deirdre. Jung: uma
biografia. Volume 2. 1ª edição. São Paulo: Globo, 2006.
2. JACOBI, Jolande. Complexo, arquétipo e símbolo na
psicologia de C. G. Jung. Petrópolis, RJ: Vozes, 2016.
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