Elaborada por Anderson Santiago
Dados do livro:
Código ISBN: 9788532653260
Formato: 13,7X21,0 cm
Acabamento: Brochura
Número páginas: 351
1ª edição
Ano de lançamento: 2016
Sinopse: Por que o cristianismo possui tamanha importância
na obra de Jung? Como Jung o entende, principalmente no contexto de sua Teoria
dos Arquétipos? Por que ele, como cientista que se interessava em primeira
linha pela experiência religiosa, dedicou tanta atenção aos dogmas cristãos ou,
mais especificamente, católicos, como a doutrina da Trindade e aos dogmas
marianos, que muitas vezes são considerados o oposto da experiência religiosa
viva? É possível adotar a sua concepção de forma acrítica e interpretá-la como
versão atraente e fértil do cristianismo ou até mesmo como uma nova forma de fé
cristã?
Esta
obra, O Cristianismo em C. G. Jung,
vem acrescentar uma quantidade já significativa de informações ao campo de
pesquisa entre a Psicologia Analítica e a Religião. O autor Henryk Machón é professor
de filosofia e psicologia na Universidade Técnica de Oppeln na Polônia. Escreveu
esta obra com a intenção de que ela servisse para representar o significado e a
função do Cristianismo na obra de C. G. Jung, seja de maneira compreensiva,
analisando toda a sua obra e o desenvolvimento do seu interesse pelos símbolos
religiosos em geral e em específico dos cristãos; quanto crítica, ao apontar os
possíveis equívocos e lacunas presentes na obra do psicólogo suíço.
O
primeiro capítulo aborda a biografia de Jung. Como lugar de nascimento de toda teoria
junguiana, a obra aborda o quanto “a religião de ‘palavras vazias’ de seu pai”
(MACHÓN, 2016, p. 305), as experiências mediúnicas da mãe e os debates
teológicos dos tios com seu pai foram influência decisiva para o lugar de
destaque dado para a experiência religiosa em sua vida e teoria psicológica.
Analisa ainda o quanto a participação do jovem Jung na associação estudantil
Zofingia teve importância para a germinação
das ideias que formarão a sua Teoria dos Arquétipos, assim como a formação em
medicina e a atuação profissional enquanto psiquiatra. Relata ainda a
hipervalorização da influência do pai da Psicanálise, Sigmund Freud, e o
impacto do rompimento da amizade entre os dois na produção teórica de Jung.
O
segundo capítulo é dedicado à apresentação da base filosófica e psicológica do
conceito de inconsciente coletivo. Este último possuindo extrema importância
como base para a Teoria dos Arquétipos. Este capítulo apresenta o desenvolvimento
das ideias sobre o inconsciente coletivo e os arquétipos desde as chamadas Palestras na Zofingia (documentos
importantes para um maior aprofundamento sobre as raízes da sua fecunda teoria
e que não estavam ao alcance do público), até seus contatos com filósofos e
psicólogos como Platão, Kant, Nietzsche, Schopenhauer, William James, Carus e
von Hartmann, para citar alguns.
O
terceiro capítulo aborda os aspectos teóricos do diálogo entre a Psicologia Analítica
e o Cristianismo. Apresenta um esboço histórico das pesquisas junguianas sobre
o tema até as suas reflexões tendo por base a Teoria dos Arquétipos. Neste
capítulo o autor esboça cronologicamente o crescente interesse de Jung pelo
Cristianismo como objeto de pesquisa, especialmente pelo Catolicismo, pelo
potencial simbólico, a função religiosa da alma e a relação entre a religião e
os arquétipos. Além disso, o capítulo aborda a questão da discussão em torno da
trindade versus a quaternidade e sobre Deus.
No
quarto capítulo se propõe a discursar sobre a importância dos símbolos
dogmáticos e atos rituais do cristianismo como meios adequados para a ação do
inconsciente coletivo e as implicações para a prática terapêutica. Relata ainda
a discussão sobre as várias formas da experiência religiosa, a proximidade
entre as formas de aconselhamento espiritual (mesmo que limitada) e a
psicoterapia, justamente pelo fato de que para Jung “as religiões são terapias
não por serem religiões, mas pelo fato de, nelas, as forças curadoras do
inconsciente agirem de forma especialmente frutífera” (MACHÓN, 2016, p. 301).
A
conclusão é dedicada a retomar os principais pontos de cada um dos capítulos e
a apontar as possibilidades, no entendimento do autor, de se continuar a
pesquisa. Machón considera o livro um estudo introdutório e que outros
adicionais são necessários, seja para analisar a compreensão que Jung tem de
algum dogma cristão em específico; seja de outros fenômenos religiosos, como o
budismo e a gnose por exemplo.
Este é
um livro que deve ser alvo de uma leitura atenta e profunda, dada a quantidade
de informações que o autor conseguiu condensar em pouco mais de trezentas
páginas. Ele trata com bastante cuidado a teoria junguiana sem cair numa
apologética como as muitas obras já existentes no mercado editorial e se
permite elencar argumentos críticos bem interessantes para nos instigar a
repensar determinados pontos da teoria psicológica junguiana. Contudo, naquilo
que concerne ao objetivo do livro senti falta de uma verdadeira atenção à
importância da Alquimia na virada epistemológica junguiana e na forma como C.
G. Jung se propõe analisar o fenômeno religioso e, mais especialmente, o
cristianismo, objetivo maior do presente estudo. Até porque ao analisar os
temas da trindade e da quaternidade, e suas influências nas discussões a que C.
G. Jung se propõe não há como ignorar as implicações dos estudos empreendidos
sobre a alquimia e que culminaram em duas volumosas obras: Psicologia e
Alquimia (vol. 12) e Estudos Alquímicos (vol. 13). Enfim, deve-se considerar O
Cristianismo em C. G. Jung, uma obra para ser estudada com carinho e com
a certeza de que agregará valor a qualquer amante da psicologia, principalmente
a junguiana.
Trechos do livro:
O tema
do cristianismo, ampliado pelo fato de esboçar a compreensão que Jung tem da
religião, é analisado com base tanto no corpus principal dedicado a este tema
quanto nos fragmentos menores e dispersos também nas cartas. Nestes últimos,
muitos autores, inclusive o fundador da Psicologia Analítica, permitem-se um
estilo mais casual, e, por conseguinte, uma linguagem mais clara, o que lança
luz sobre teses do corpus principal (MACHÓN, 2016, p. 304).
A teoria
multifacetada de Jung só pode ser entendida e interpretada em perspectiva
interdisciplinar. Por isso o autor deste estudo analisa camadas – psicológica,
filosófica e teológica -, levando em consideração sua metodologia científica (MACHÓN,
2016, p. 304).
Agradeço
a Editora Vozes pela parceria para que eu pudesse produzir a resenha tanto
deste livro, quanto do próximo: Psicologia e Alquimia (volume 12 das “Obras
Completas”).
Recife, 17 de março de 2017
Elaborada por Anderson Santiago